A PARÁBOLA DO RICO E LÁZARO

A PARÁBOLA DO RICO E LÁZARO

 

 

           “Disse-lhe Abraão: Eles têm Moisés e os profetas; ouçam-nos. – E disse ele: Não, Abraão, meu pai; mas, se algum dos mortos fosse ter com eles, arrepender-se-iam. – porem Abraão lhe disse: Se não ouvem a Moisés e aos profetas, tampouco acreditarão, ainda que algum dos mortos ressuscite.”  

(Lucas 16:29-31)¹

 

         Este episódio descrito por Jesus logicamente tratava-se de uma parábola, uma história sem nenhuma conexão Histórica.

         As parábolas eram utilizadas por Jesus para ilustrar ao povo os seus ensinos e tornar mais fácil o entendimento. É claro que mesmo com esse recurso nem todos compreendiam. [2]        

          Nesta passagem, Jesus falava a uma multidão de pessoas de diferentes grupos e classes, entretanto, o ensinamento da parábola tocava mais diretamente os Fariseus que eram o maior grupo religioso judeu da época [3]. Acreditavam na imortalidade da alma, na ressurreição e na existência dos anjos. Todavia, eram ávidos pelo dinheiro e excessivamente apegados as tradições e ritos religiosos, que muitas vezes nem mesmo eles cumpriam de maneira coerente.   

         Valendo-se da crença farisaica da imortalidade da alma, o mestre divino conta uma história de cunho moralizante e tambem doutrinário para o esclarecimento geral de todos que o ouviam.

         Ora, utilizando-se da ideia imortalista, Jesus confirma a veracidade da sobrevivência da alma humana após a morte do corpo e a sua consciência no plano espiritual, desbancando a doutrina dos Saduceus que eram materialistas. Na parábola, havia um homem rico sofrendo no além-túmulo as consequências de uma vida egocêntrica e outro chamado Lázaro, que na terra viveu na miséria, mas que naquele momento estava ao lado de Abraão. Os dois estavam separados por um abismo intransponível.

         Os adeptos de outras crenças do Cristianismo frequentemente utilizam esta lição como argumento para abalizar uma provável condenação ao Espiritismo. Opinião que obviamente carece de fundamento como veremos.

         Analisando a narrativa vemos que a intenção de Jesus era:

 1) Demonstrar que a vida espiritual existe e que os espíritos estão conscientes após a morte. (os personagens são espíritos desencarnados)

          O Espiritismo confirma que a vida continua após a morte na sua plenitude e consciência. Comprovando de forma cabal, a existência de um mundo espiritual. Desbancando assim, as teorias materialistas dos Saduceus modernos.   

 2) Demonstra que a vivência egoística dos prazeres da vida física causa sofrimentos na vida futura.

         O Espiritismo ensina que não basta apenas se abster de prejudicar o próximo, a inatividade, isto é, não fazer o bem já é um mal.

 3) Demonstra a existência de planos espirituais inferiores e superiores. (O rico egoísta foi levado para o Hades, enquanto Lazaro foi levado pelos anjos para o seio de Abraão).

         O Hades é o equivalente Grego ao hebraico Xeol. Os hebreus como outros povos do oriente médio e os Gregos, acreditavam que os espíritos dos mortos, independentemente se eram bons ou maus [4], iriam para esse mundo localizado nas entranhas da terra. Para gregos e romanos, havia no Hades um compartimento para os maus (o Tártaro) e outro para os bons chamado de campos Elísios.

          É provável que Jesus para se fazer entender tenha aludido a esses dois compartimentos do Hades, visto que o abismo que separava os dois homens, embora o rico tenha elevado os olhos, não era tão distante assim, podiam se observar e conversar.

         Algumas bíblias traduzem o Hades por inferno, outras por mansão dos mortos, sendo essa última tradução a mais coerente com a ideia original. 

         A expressão “o seio de Abraão” corresponde a reunir-se aos pais, quer dizer, aos Patriarcas, pois todos os hebreus consideravam-se filhos de Abraão [5]. Desse modo, todos almejavam estar junto deles no além-túmulo. A ideia de filiação era importantíssimo no judaísmo com respeito a felicidade futura. 

         O Espiritismo ensina a existência de planos espirituais inferiores e superiores. Após o desencarne o Espírito irá encontrar-se no plano em que a sua consciência o colocar.  Nos planos inferiores haverá dor e aflição, porém, nos superiores encontrará paz e alegria podendo inclusive reencontrar os familiares, dependendo do merecimento e do nível evolutivo em que estejam.

         O sofrimento das chamas experimentado pelo rico é mostrado pelas comunicações mediúnicas como sendo  mais consciêncial que físico.  A consciência culpada plasma ao redor de si uma psicosfera de sofrimento, que para sua mente ainda presa aos reflexos materiais, adquire a aparência de um sofrimento físico. Varias comunicações desse tipo são encontradas no livro “O céu e o Inferno” de Allan Kardec.  

 4) Demonstra a incompatibilidade entre os que vivem nos dois planos. (nenhum dos dois pode transpor o abismo).

         Nas comunicações mediúnicas e nos livros psicografados relacionados à vida no mundo espiritual, é apontado a impossibilidade de um espírito inferior adentrar nos planos superiores, do mesmo modo, um espírito superior não poderá habitar os planos inferiores. A exceção é colocada quanto ao desempenho de uma missão, seja de resgate de espíritos que já estejam em condições mentais de receberem ajuda ou em visita ao plano físico.

 5) Demonstra a necessidade de respeitar as escolhas individuais. (“se não ouvem Moisés e os profetas, tampouco acreditarão ainda que algum dos mortos ressuscite”).

         Abraão não disse que a comunicação com os vivos era impossível, mas que, se os parentes do rico não ouviam os ensinamentos contidos nas leis mosaicas e nos profetas dificilmente aceitarão os conselhos do espírito de um morto.

         Quanto à ressurreição os Fariseus divergiam em varias opiniões a respeito. Uns acreditavam na reencarnação com o nome de ressurreição (já que a palavra reencarnação não existia naquela época). Outros aceitavam a ressurreição propriamente dita e outros achavam que ressuscitar era o ressurgir do espírito [6], como vemos nessa passagem:

         “porque os saduceus dizem que não há ressurreição, nem anjo, nem espírito; mas os fariseus reconhecem uma e outra coisa. – E originou-se um grande clamor; e, levantando-se os escribas da parte dos fariseus, contendiam, dizendo: nenhum mal achamos neste homem, e se algum espírito* ou anjo lhe falou, não resistamos a Deus.” [7] 

         O Espiritismo coloca a necessidade da não dependência de buscar resolver todos os problemas nas consultas espirituais. Os espíritos superiores sempre nos exortam a buscamos as soluções utilizando nossos conhecimentos e estudos do evangelho. Logicamente que nos aconselharão sempre que formos a procura de auxílio nos momentos de dificuldades, mas o esforço é nosso e não é permitido a eles intervirem em nosso livre arbítrio. Assim, nos oferecerão sugestões oportunas e úteis, todavia, caberá ao nosso empenho a solução.

         Muitas vezes recebemos intuições de parentes ou amigos desencarnados que na tentativa de nos auxiliar, nos inspiram bons conselhos. No entanto quantas vezes lhes damos ouvidos?

         O conselho de Abraão foi justo e oportuno e Jesus deixou nesta simples parábola ensinamentos profundos que somente seriam melhor compreendidos com o advento da Doutrina Espírita. 

         Assim, nada há nesta passagem bíblica que reprove o Espiritismo. Ao contrário, mostra total concordância com Codificação Espírita.

 

Jefferson Moura de Lemos

 

  

Referências:

[1] Bíblia Sagrada. João Ferreira de Almeida. Ed. 1995 São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 2005. 

[2] (Mateus 13: 13-15; Marcos 4:33 e 34) 

[3] (Lucas15:1; 16:1;14) 

[4] (Gênesis 37:35) 

[5] (Gênesis 15:15;47:30;Deuteronômio 31:16) 

[6] O Evangelho Segundo o Espiritismo cap. IV, item 4 

*os grifos são nossos 

[7] (Atos 23: 8-9)  

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